“Naquele momento, fora da China, havia menos de 100 casos de Covid-19 e ainda não havia mortos. A contenção na resposta à ameaça permitiu que os casos de infeção pelo SARS-COV-2 se multiplicassem rapidamente.”

Tedros Ghebreyesus

O início do ano 2020 foi marcado pela origem de um novo coronavírus (CoVID-19) que se tornou numa ameaça à saúde pública mundial, devido essencialmente à rápida proliferação do número de casos de contágio registados. Curiosamente, a magnitude e gravidade desta doença não pareceu corresponder a uma resposta pronta, assertiva e eficaz por parte das entidades de saúde e pelos próprios governos, que pareceram “presos” a uma liderança “laissez-faire”. A liderança “laissez-faire” é o evitamento ou ausência de liderança quando tal se tornaria particularmente importante e é, por definição, mais inativa e ineficaz na gestão de pessoas e equipas. De facto, as decisões necessárias não são assumidas, as ações são atrasadas, as responsabilidades de liderança são ignoradas e a autoridade permanece inútil (Bass & Riggio, 2006).

O Modelo de Eficácia da Liderança (Gomes, 2021) também fornece indicações sobre o modo como são tomadas decisões de liderança, incluindo dois estilos de tomada de decisão: a gestão ativa e a gestão passiva ou “laissez-faire”. A gestão ativa da tomada de decisão pode ser um processo descentralizado (com recurso à consulta de outras pessoas) ou um processo centralizado (onde quem lidera assume a decisão, pensando nos melhores interesses de todos). Um exemplo da gestão ativa descentralizada ocorreu quando a Organização Mundial de Saúde reuniu vários cientistas mundiais, em fevereiro de 2020, em Genebra. O objetivo desta reunião foi auscultar os cientistas sobre o novo vírus, procurando-se travar a sua rápida proliferação e refletir sobre o desenvolvimento de uma vacina. Já um exemplo da gestão passiva da tomada de decisão, ou liderança “laissez-faire”, ocorreu no atraso das medidas de prevenção e ação face à propagação da CoVID-19 pelas autoridades governamentais de diversos países. A CoVID-19 foi identificada a 1 de dezembro de 2019, em Wuhan, na República Popular da China. A Organização Mundial de Saúde declarou a proliferação da CoVID-19 como Emergência de Saúde Pública Internacional a 30 de dezembro. O diretor da Organização Mundial de Saúde, Tedros Ghebreyesus, declarou-a como pandemia e alertou os governos mundiais a 11 de março de 2020. O secretário de estado da Organização das Nações Unidas, António Guterres, “instou todos os países a agir com rapidez, tomando medidas sérias para conter a disseminação do vírus” a 19 de março de 2020. O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, declara estado de emergência a 18 março de 2020. Todas estas decisões ocorrem num cenário onde era evidente que, se o vírus se propagasse, os sistemas de saúde não teriam capacidade para garantir os cuidados de saúde e as pessoas estariam em risco de infeção por contágio social, o que infelizmente acabou por suceder. Os restantes acontecimentos são do conhecimento de todos. O que importa reter é que esta pandemia tornou evidente que os modos de atuação em situações de crise à escala planetária estão desadequados e desatualizados face àquilo que é necessário fazer quando a difusão de problemas “locais” têm potência suficiente para afetar, em cadeia, um conjunto alargado de instituições, comunidades e países. Ou seja, precisamos de liderança ativa para conter problemas de impacto global! Será que aprenderemos a lição?


Gostaram deste artigo? Gostariam de saber mais sobre a utilização destes comportamentos e como potenciar a eficácia da liderança? Não perca o nosso ciclo de Workshops Pro●Lider. Inscrições aqui!


Autoria
Joana Pires

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *