Os fatores psicológicos têm um papel crucial na adaptação ao contexto desportivo, assim como no rendimento dos atletas durante as competições.

Na Seleção Nacional de Boccia foram criados processos de análise, adaptação e implementação das competências mentais essenciais para a modalidade, com o objetivo de uma melhor adaptação aos fatores de stress competitivo e promover o rendimento individual/coletivo dos atletas. É importante salientar que, independentemente do tipo de deficiência física/cognitiva ou da classe da modalidade, que, cada vez mais, o conceito de alto rendimento no desporto adaptado implica trabalhar com estes atletas de modo semelhante ao modo como se trabalha com os atletas sem deficiência.

Uma das estratégias fundamentais que implementámos na Seleção Nacional de Boccia prende-se com o treino de rotinas mentais a utilizar antes, durante e após a competição, permitindo aos atletas “direcionar” a sua avaliação cognitiva e responder eficazmente às exigências da competição. De salientar que o modo como cada atleta avalia a situação de stress é um elemento central do Modelo Interativo de Adaptação ao Stress (Gomes, 2014), onde é crucial verificar a interação entre os processos de avaliação cognitiva e as respostas psicológicas, fisiológicas e comportamentais das pessoas quando se encontram sob pressão.

Uma outra influência importante deste modelo teórico no nosso trabalho prende-se com os fatores antecedentes de stress. Mais concretamente, nos momentos que antecedem o jogo analisamos as características situacionais (fase da competição, adversários, condições do piso, etc.) e pessoais (características dos atletas, objetivos individuais/coletivos, etc.) que podem influenciar o rendimento dos atletas. O objetivo desta análise é verificar se existem fatores internos e externos que podem debilitar o rendimento dos jogadores, procurando-se que estes consigam avaliá-los como um desafio às suas capacidades (e não como uma ameaça) e sintam uma capacidade adequada de confronto e controle sobre a situação apresentada. 

Nas ocasiões em que a situação é avaliada como uma ameaça ao bem-estar dos jogadores, e perspetivando respostas psicológicas, fisiológicas e comportamentais negativas, existe uma rotina mental de seis fases que é realizada em cada bola lançada, com o objetivo de ajudar os atletas a lidar com as suas respostas e a estarem preparados para os momentos seguintes. As seis fases são compostas por estratégias de confronto que incluem fatores como a comunicação (em equipa), a tomada de decisão (técnica/tática), a preparação mental para a jogada, o pensamento positivo/self talk e a consciência mental (avaliação). Este processo foi desenvolvido de forma a ir de encontro às necessidades dos atletas e de forma a corresponder às exigências da modalidade.

No final do jogo, para a maior parte das pessoas fica na memória a vitória ou a derrota, mas para os atletas fica sempre a intenção de melhorar todos os detalhes que possam promover o rendimento futuro ou que, pelo menos, possam dar continuidade a um bom momento de forma e rendimento desportivo.

O stress faz parte do dia a dia destes atletas de alto rendimento e o sucesso vai depender de uma adaptação positiva ou negativa às tensões próprias do contexto competitivo.


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Autoria
Tiago Maciel

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