Comemorou-se no passado dia 6 o Dia Mundial da Atividade Física, que visa promover a prática de atividade física junto da população, bem como divulgar os seus benefícios para a saúde e bem-estar geral das pessoas. Apesar de a temática ser frequentemente abordada por diversos profissionais, em vários contextos, sendo alvo de múltiplas iniciativas públicas e privadas, estamos ainda longe de um cenário positivo nos níveis de prática de exercício físico, tanto no nosso país como a nível global.

Importa, em primeiro lugar, esclarecer os conceitos de atividade e exercício físico:

  • Atividade física – Movimento/atividade corporal que resulta num gasto de energia (ex: fazer jardinagem)
  • Exercício físico – Subtipo de atividade física, realizada de modo planeado, estruturado e repetitivo, tendo por objetivo principal a melhoria ou manutenção da forma física ou da saúde

Assim, todo o exercício físico é uma atividade física, embora nem todas as atividades físicas constituam exercício físico. De salientar a diferença de objetivos: os praticantes de exercício têm em vista a sua saúde ou forma física, ao contrário da atividade física, cujos objetivos são mais difusos, muitas vezes centrados na realização de atividades diárias.

A investigação nesta área tem sido inequívoca quanto aos benefícios da prática de exercício para a saúde, bem como relativamente aos efeitos negativos da inatividade. Seria de esperar, então, uma forte adesão ao exercício físico. Os dados disponíveis, no entanto, contrariam esta hipótese:

  • A nível mundial:
    • ¼ da população mundial não é suficientemente ativa (1,4 biliões de adultos)
    • 1 em cada 4 homens não fazem atividade física suficiente para se manterem saudáveis
    • 1 em cada 3 mulheres não fazem atividade física suficiente para se manterem saudáveis
    • Países com elevados rendimentos têm 2 vezes mais inatividade que países com baixos rendimentos
    • Níveis globais de atividade física sem melhoria desde 2001
  • Em Portugal:
    • 86,7% dos adolescentes não cumprem as recomendações mínimas da OMS (81,5% rapazes, 91,2% raparigas)
    • 37,3% dos adultos não cumprem as recomendações mínimas da OMS (33,5% homens, 40,8% mulheres)

O cenário não é positivo, nem otimista, pela estagnação destes dados. É fundamental, assim, perceber os motivos pelos quais as pessoas não praticam exercício físico e, igualmente importante, perceber as elevadas taxas de abandono do exercício. Os motivos mais reportados para a não-prática de exercício incluem:

  • Falta de tempo
  • Falta de energia/cansaço
  • Falta de motivação
  • Falta de conhecimentos
  • Falta de locais de exercício físico

As razões mais frequentes que levam um praticante a abandonar a prática são:

  • Lesões
  • Exigências profissionais
  • Falta de tempo
  • Exigências familiares
  • Final do programa ou época desportiva
  • Más condições de prática
  • Stress
  • Desmotivação e não realização das expectativas

Esta informação, fruto de anos de investigação, é crucial para o profissional de Psicologia poder intervir, com o objetivo de fomentar esta atividade e evitar o abandono. Esta intervenção é geralmente implementada junto dos próprios praticantes e instrutores, embora possa também incluir os outros significativos do praticante (família, amigos) e os próprios gestores de academias e ginásios.

Mas porquê a necessidade de um psicólogo a intervir na estimulação do exercício físico? A verdade é que os fatores cognitivos, emocionais e sociais são fundamentais na adesão, manutenção e abandono do exercício físico, sendo estes aspetos do domínio de intervenção da Psicologia.

O grande objetivo do psicólogo nesta área é tornar a prática de exercício uma rotina de vida no funcionamento do praticante, incentivando os não-praticantes a aderir a esta atividade e evitando o abandono dos que já são praticantes. Como? Dependendo do público-alvo, o psicólogo trabalha diferentes áreas, sempre com estes objetivos em mente e tendo em conta as indicações da investigação.

  • Praticante
    • Motivação para a prática de exercício
    • Gestão do tempo no dia a dia e correspondente stress
    • Gestão da autoimagem e expectativas face ao exercício
    • Integração em grupos/turmas de exercício
  • Instrutores
    • Apoio na definição de programas de exercício motivadores
    • Comunicação e interação com os praticantes
  • Gestão
    • Monitorização do comportamento de exercício (investigação)
    • Apoio no recrutamento de praticantes

Dada a importância do exercício físico para a saúde da população e tendo em conta o contexto de baixos níveis de prática e elevados níveis de abandono, a ação do psicólogo, ainda pouco disseminada, é fundamental para aumentar os níveis de prática de exercício físico e diminuir o abandono, almejando a que a população atinja, pelo menos, os níveis mínimos de exercício físico recomendados pela OMS.


Autoria
Liliana Fontes

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