A participação em desportos juvenis organizados pode trazer consigo uma série de vantagens para os jovens atletas, nomeadamente:
- Melhoria da capacidade física e motora, através do desenvolvimento de capacidades e competências específicas da modalidade praticada;
- Início de estilos de vida saudáveis e, consequentemente, prevenção de doenças, aumentando ainda a probabilidade de estes comportamentos se manterem durante a idade adulta;
- Promoção do desenvolvimento pessoal e a melhoria de competências mentais (e.g., autoconceito, autoestima, autocontrole, autodisciplina, etc.);
- Promoção do respeito pelas regras e normas de grupo (e.g., respeito pelos outros e “fair-play”, cooperação, relacionamento interpessoal, etc.);
- Inclusão num ambiente onde existem oportunidades de diversão e convívio com outras pessoas, promovendo a integração e o respeito pela diferença.
No entanto, a mera participação em desportos organizados não garante, por si só, bons resultados nestes domínios. Na verdade, também existem potenciais riscos nos desportos de formação desportiva:
- Desenvolvimento de uma baixa autoestima, devido a avaliações negativas que promovem sentimentos de incompetência, podendo levar ao abandono desportivo e a futuros estilos de vida sedentários;
- Aprendizagem de comportamentos agressivos aceites como “normais” (particularmente em modalidades de contacto);
- Sentimentos de ansiedade excessiva e “stress competitivo” (medo de falhar), com todas as consequências negativas para a autoestima das crianças e jovens;
- Aprendizagem de capacidades físicas inapropriadas ou imperfeitas;
- Exposição ao risco de lesões e doenças físicas, frequentemente derivadas de carga de treino desadequada;
- Aprendizagem de regras ou estratégias de jogo erradas;
- Sentimentos de mal-estar e evitamento de atividades desportivas no futuro, comprometendo a saúde e estilos de vida saudáveis;
- Aprendizagem de formas ou meios para vencer desonestamente, aceites como normais;
- Perda de tempo em atividades pouco vantajosas.
Assim, é imperativo garantir que as crianças e jovens que participam em desportos organizados o façam em contextos que promovam os benefícios desta participação e mantenham muito baixa a probabilidade dos riscos descritos acima.
Mas como?
O ambiente competitivo que se gera em torno de uma modalidade é um dos aspetos, entre muitos outros, que pode ser ajustado para maximizar benefícios e minimizar riscos. É perfeitamente possível que crianças e jovens compitam em ambientes positivos, retirando assim prazer da competição sem estarem expostos aos riscos de um ambiente competitivo negativo:
Fator | Ambiente Competitivo Negativo | Ambiente Competitivo Positivo |
Competição | É uma “guerra” | É um jogo competitivo e cooperativo |
Adversários | São “inimigos” | São atletas com quem se compete |
Comportamentos violentos/ameaçadores | São “situações normais do jogo” | São comportamentos intoleráveis e que devem ser corrigidos |
Erros dos árbitros | São sinais evidentes de injustiça e “má fé” | São prova de que eles são humanos e, como tal, podem cometer erros |
Ganhar | É a única coisa importante | É apenas uma parte |
Os jogos e a competição | São um assunto muito sério, decisivo e importante | São momentos de prazer e diversão, oportunidades para melhorar e pôr à prova competências e capacidades desportivas |
Há, naturalmente, muitos outros fatores que contribuem para um ambiente desportivo positivo e promotor dos benefícios descritos no início. Ainda assim, o ambiente competitivo que se estabelece em torno de uma modalidade ou de um clube espelha os valores de dirigentes e equipas técnicas e mostra, em parte, quais os ideais que regem os treinos, o tipo de interação entre atletas, entre outros. Desta forma, é fundamental que dirigentes, equipas técnicas e demais agentes desportivos, incluindo os pais dos atletas, unam esforços no sentido de tornar o ambiente competitivo dos seus atletas positivo e verdadeiramente promotor dos benefícios que o desporto juvenil pode trazer aos seus praticantes.